Personagem de Livro, o Batata foi o Rei das Façanhas.
Luís Carlos, o Batata, e o amigo João Garcia
foto J. Cirilo
por João Garcia Duarte
Honorinho nasceu em berço esplêndido. Quando veio ao mundo certamente muitas coisas aconteciam nesta terra. O rio Amazonas, por exemplo, descia lento pelas selvas e um condor aproveitava as termas sobre os Andes peruano em lentos e grandes volteios a procura de algum animalzinho lá embaixo que pudesse matar.
Ele nasceu pequeno, uma coisica no colo da mãe, sempre enrolado num cobertozinho , novo e colorido. Com o indicador comprido a mãe afastava um pouquinho a coberta para ver seu rostinho, para certificar se estava respirando. Sempre estava, com aqueles olhinhos rasgados e fechados, os cabelos suaves, muito pretos. Era o grande, o maior amor que lhe acontecera.
De família de fazendeiros, também casara-se com um homem rico dono de gado, roças e até engenho de açúcar. A gravidez veio logo no primeiro mês após o altar. Passeando pela pracinha da cidade, nas manhãs tépidas e sem vento, ia descobrindo seu rostinho para mostrar aquela coisica querida ás amigas que se aproximavam.
Mamando no peito, Honorinho foi ganhando corpo. Quando tinha fome chorava muito e movimentava as perninhas exigindo o peito da mãe. O médico da família dizia que tinha muita saúde e que seria um homem muito forte.
De fato, o tempo foi mostrando que nada abatia Honorinho, nenhuma doença, nem gripe o danadinho pegava. Ganhava caixa e era forte como um bezerrinho zebu. Era forte, mas curtinho. O que um dia provocou o comentário da mãe ao pai:
- Honório, o Honorinho vai ficar baixinho...
Honório parece não ter prestado muito atenção ao que dissera a esposa: apenas fez um bilu-bilu carinhoso nos beicinhos do bebê e sorriu.
E assim foi crescendo Honorinho, rodeado de gente e de amor. O pai chegava da fazenda cansado, suado, retirava o chapéu e beijava suavemente o seu rosto. Logo suas perninhas curtas deram os primeiros passos, levaram os primeiros tombos. E não demorou Honorinho já estava correndo pela casa, depois pela pracinha. Aquela coisinha pequena se movimentando como um corisco por entre os móveis da casa e a mãe pressurosa correndo atrás para retirar da sua frente coisas perigosas: vasos, copos, pratos, garfos. Na pracinha, era soltá-lo no chão e Honorinho já disparava em direção as rosas coloridas do jardim. Um dia, espetou-se num espinho. Mas, para espanto da mãe, não chorou, chupou o sangue que lhe saía do dedinho.
O pai Honório morreu muito cedo, uma febre desconhecida o levou e Honorinho nem chegou a conhecê-lo, a lembrar de seu rosto.
Muito pequeno, a morte do pai parece que não abalou Honorinho, começou a falar no tempo certo e mostrou-se logo um menino ativo e muito curioso: ficava tempos olhando figuras em livros que obrigava a mãe a derrubar no chão da sala para seu deleite diante de tantos coloridos. E não demorou também a começar a fazer perguntas desconcertantes:
- Mamãe, por que a gente não tem rabo?
Foi à escola e se destacou por surpreendente caligrafia para um menino daquela idade. Sua letrinha parecia um desenho de bom gosto. Se mostrava curioso, interessado, a tudo perguntava a professora. Para muitas das perguntas de Honorinho, a mestra não tinha respostas.
A mãe acertara: Honorinho teria estatura pequena, tanto que na escola, na percepção rápida das crianças, ganhou o apelido de Tampinha. Uma coisa que a mãe não esperava e foi descobrindo aos poucos, é que Honorinho não enxergava bem. Por isso, aos sete anos, passou a usar óculos.
- Tampinha! Quatro Ôio!- gritavam os moleques da escola.
Honorinho chegava chorando em casa:
- Mamãe, eles estão me xingando...
- Xingando? De que, meu filho?
- De Tampinha, de Quatro Ôlho...
- Não liga não, meu filho, eles são bobos...
A mãe era ainda muito jovem e não demorou a casar-se pela segunda vez, com um parente e logo começaram a nascer os filhos do segundo casamento: três. Nunca se conseguiu descobrir se o segundo casamento da mãe, de alguma forma, afetou Hororinho.
O fato é que de família muito católica e morando em frente à igreja matriz, Honorinho desde cedo freqüentou com assiduidade o templo católico. E estreiou como anjo na procissão do Santíssimo: aquele menininho de óculos, compenetrado, com duas grandes asas brancas pelas ruas da cidade em passsinhos sizudos. Não demorou, tornou-se coroinha, respondendo tudo em latim. Como aprendia com facilidade! O padre, um espanhol retaco comentou com a mãe:
- Honorito és um gênio!
Todos esperavam, quase tinham certeza, que Honorinho seguiria a carreira eclesiástica, seria um padre, um bispo, porque não?
Ao superar com facilidade os quatro primeiros anos do grupo escolar na cidadezinha , nada mais acertado do que mandá-lo cursar o ciclo ginasial em colégio interno na cidade grande. De lá, certamente Honorinho sairia mais preparado para a missão a que estava destinado: uma bonita carreira que certamente galgaria com brilhantismo todos os degraus da Santa Madre Igreja Católica. A mãe chegou a sonhar com alguém anunciando no alto falante do Vaticano: agora ouviremos as palavras de Sua Santidade, Honório VI! E ele aparecia naquela ampla janela em vestes brancas acenando com gestos suaves aos povos do mundo.
Do tempo que Honorinho passou no colégio interno as informações são escassas, pouco se sabe. Apenas que quando a mãe foi buscá-lo para passar as férias em casa teria recebido um advertência do padre responsável pela turma dos Menores: é um bom aluno, mas muito mentirozinho.
A mãe não se preocupou, passou suavemente as mãos em seus cabelos e pensou : mentirozinho não; imaginativo. Mas no carro, a caminho de casa, com muito jeito ela resolveu adverti-lo:
- É muito feio mentir, meu filho...
- O que é a mentira, mamãe?
- Aquilo que não é a verdade?
- E o que é a verdade, mamãe?
A mãe, de boa educação, mas de instrução limitada, e amor ilimitado ficou em dúvida e em resposta apenas lhe acarinhou mais uma vez.
Mas como na vida nem tudo que reluz é ouro e nem todo coroinha chega a papa aconteceu o mais provável: Honorinho não seguiu carreira eclesiástica. Aliás, nenhuma. Terminado o ginasial e o colegial sempre com boas notas, ninguém sabe porque , parou de estudar. Voltou para a casa da mãe na cidadezinha e lá ficou. Deu de freqüentar a bares e a beber muitas cervejas. Ninguém conseguia entender como Honorinho com aquele corpo franzino agüentava beber tanto. Varava duas, três noites e dias sem dormir, só bebendo. Depois compensava: dormia dias seguidos. Nunca se queixou de dor de cabeça ou ressaca. Era mesmo um forte.
Com a morte do pai, um administrador de confiança cuidava das fazendas, dos negócios. Dinheiro não faltava e Honorinho torrava dinheiro à vontade. A mãe, extremamente apaixonada por ele, nunca o recriminava: a Honorinho o que é de Honorinho, isto é, tudo.
Se Honorinho marcou sua infância e primeira juventude com muito estudo e religiosidade, a terceira parte de sua vida, de fato a mais importante, foi marcada pelos bares, bebedeiras.
Às vezes, quando se cansava da mesmice da boêmia da cidade pequena, alugava um táxi para ir beber na cidade grande. Lá, depois de alguns copos gostava de se passar por alta patente militar. Era só entrar um soldado no bar ele se levantava na mesa e chamava:
- Soldado, venha cá!
O rapaz de farda aproximava-se surpreso.
- Posição de sentido, soldado!
Atônito o soldadinho ficava sem saber que atitude tomar.
- Já disse, soldado, sentido! Eu sou o major Lara, sentido!
Na dúvida o soldado se colocava em posição de sentido.
- Continência, para o seu superior, soldado!
E o soldado humildemente lhe prestava continência.
- Está dispensado, soldado!
Quantas vezes, Honorinho fez isso. Mas certa noite ele se deu mal. Sem mais nem menos se antipatizou com um loiro alto que estava dando gargalhadas ao lado de sua mesa. Pôs-se de pé e com as duas mãos sobre a mesa se dirigiu ao loiro:
- Quer fazer o favor de parar com essas gargalhadas!
O homem encrespou:
- O quê?
- Quer fazer o favor de parar de dar risada?!
- Olha aqui rapaz- respondeu o loiro já se levantando e apontando o dedo para o peito de Honorinho- quem é você para me dar ordem?
- Eu sou o major Lara do Décimo Sétimo Regimento de Cavalaria e o senhor se considere preso!
O loiro se desvencilhou das cadeiras e se aproximou bufando de Honorinho:
- Mostre-me seus documentos!
Honorinho não tinha. Mas o loiro tinha, puxou do bolso e mostrou: era nada menos do que o capitão Augusto Nunes Vilela, por coincidência do mesmo Décimo Sétimo Regimento de Cavalaria. O capitão fez um gesto para o dono do bar que pegou rapido o telefone. Em pouco tempo uma viatura estacionou em frente ao bar e desceram um cabo e dois soldados:
- Quem é o vagabundo, capitão? – perguntou o cabo .
- Aquele baixinho ali, leva pra dormir na cadeia...
Outra noite, reconhecendo entre os freqüentadores um historiador da região, se apresentou educadamente a ele , mas em seguida soltou:
- Sabia que o seu livro é uma merda?
O livro podia ser mesmo uma merda, mas o autor era um homem sarado, de quase dois metros de altura e se engalfinhou com Honorinho. Depois de muito lhe socar e estapear, jogou-lhe ao chão , pisou sobre o seu pescoço e perguntou:
- Chega ou quer mais?
Ao que Honorinho respondeu esganiçado com o sapato do homem a lhe apertar o pescoço:
- Cansou , filho da puta?
Se para nós, mortais, a verdade é uma coisa muito clara, cristalina, para Honorinho sempre foi muito controversa. Nunca, ninguém, nem sua querida mãe, conseguiu tirar dele uma informação segura, precisa. Por isso, nunca se sabia o que de fato fazia, pensava, sofria ou amava. A impressão de quem o conheceu mais intimamente , como nos versos do poeta Fernando Pessoa, era de “um fingidor, que sente fingir que é dor, a dor que deveras sente.”
O Batata em 1970, aos 30 anos.
Se passava por alta patente que não era, se passava por fazendeiro que não era, se passava por antropólogo com formatura na Usp, que também não era, por piloto de avião, mas sem dúvida era um intelectual: quando não estava bebendo tinha sempre um livro a mão. Mas não explorava seus conhecimentos, sua quase erudição, derramava-a gratuitamente pelos bares procurando com ela sempre um pé para a polêmica, para brigas, ofensas ferinas. Parece que só o contencioso lhe dava prazer.
Nunca ninguém viu Honorinho chorando, ou reclamando da vida. Nunca se culpava de nada, a culpa, se é que havia, era sempre dos outros. Iniciava a bebedeira de maneira alegre, mas com o andar dos copos, transformava-se em amargo, ferino. Amou alguém, se apaixonou alguma vez? Não se sabe.
Além dos bares, também gostava de freqüentar as zonas de meretrício. Entrava no quarto com as mulheres e depois de muito beber e conversar a coisa encrencava e ele partia para cima delas com a cinta.
Certa vez, não se sabe como, arrumou para dar aula de Comunicação e Arte numa faculdade na cidade grande. Começou bem: deu as duas primeiras aulas e depois desapareceu. Os alunos reclamaram e o diretor deu um ultimato a Honorinho: ou dava aula, ou perderia o emprego.
Apareceu na sala de aula e os alunos cobraram sua ausência, afinal, suas aulas eram até que interessantes. Como sempre deu uma desculpa:
- Eu não estou tendo tempo para nada. Nem para lavar a cueca...
Abaixou a calça e mostrou a cueca, realmente quase preta de sujeira. Foi gargalhada geral na classe. Mas o diretor ficou sabendo e não gostou. Honorinho perdeu o emprego.
Voltou para a cidade natal e para os bares de sempre. Dizem que perdeu várias fazendas em bebedeiras e na compra de bobagens. Uma delas , por exemplo: comprou pelo correio um par de escafandros com cilindro e tudo. Certa madrugada a mãe acordou com uma barulheira de água. Saiu da cama e percebeu que o chão do quarto estava todo alagado. Saiu rápida em direção ao barulho que vinha do banheiro e deparou-se com cena insólita: Honorinho e um amigo, com escafandros no rosto e calçando pé de pato mergulhavam na banheira cheia fazendo um barulhão.
- Honorinho, meu filho, o que é isso?!- gritou a mãe desesperada.
- Não se preocupe, mamãe, estamos testando o equipamento.
Nunca se soube que Honorinho tenha mergulhado em rios , em mares, só mesmo aquela vez, na banheira de casa naquela madrugada.
Conta-se também que certa vez, Honorinho se apaixonou ( mas ninguém sabe mesmo ao certo se ele era capaz de se apaixonar) por uma moça muito bonita, também filha de fazendeiros e que nem lhe dava bola. No dia do aniversário dela, o que ele fez? Foi até uma cidade vizinha, comprou sacos de flores, alugou um Teço-Teco e ficou sobrevoando e jogando flores sobre a casa da moça. Todo esforço e dinheiro gasto em vão: as flores acabaram caindo no quintal de uma preta velha . Dizem que a preta até chorou de alegria, pois que rosas lhe caíam do céu. Já a moça nem teria visto , percebido a homenagem.
A paixão, ou interesse, ou desejo de aventura, seja lá o que fosse, parece ter durado. Nos bailes no clube da cidade, Honorinho bebia e não tirava os olhos da moça.O clube tinha dois andares, e o nosso herói estava no de cima, observando com os braços apoiados num parapeito de madeira, a sua bela amada lá embaixo, acomodada à mesa junto com a família. Ela percebia o grande interesse de Honorinho, e podia também até estar interessada, mas evitava o flerte pois sabia que teria pela frente grandes complicações.
Já muito bêbado, inadvertidamente Honorinho colocou o peso do corpo sobre o parapeito e ele quebrou. Foi aquele escândalo, com Honorinho se estatelando lá embaixo sobre a mesa da família da moça. Foi aquela barulheira de garrafas e copos caindo.
Segundo testemunhas, ao cair, um dos sapatos de Honorinho saiu do pé e ficou a mostras uma meia vermelha furada no dedão e um cheiro insuportável de chulé. O caso com a moça parou por aí.
Com o amigo Alexandre Castro Souza Lima
Tempos depois, Honorinho encasquetou que ia ser fazendeiro no Mato Grosso. Como nunca era contrariado a mãe deu- lhe o dinheiro para que comprasse muitos alqueires de terra na região de Amambaí, quase divisa com o Paraguai. Lá iniciaria uma grande criação de gado. E para lá seguiram Honorinho e um capataz de confiança.
O tempo foi passando e de vez em quando chegava uma cartinha: “mamãe, preciso de dinheiro para vacinar o gado”; “ preciso para comprar quinze touros”; “preciso para consertar as cercas...” Não havia mês que não chegava cartinhas pedindo mais dinheiro, mas sempre acompanhada de notícias alviçareiras: “o gado está muito bonito mamãe, gostaria que a senhora visse...” “ Nasceram este mês quarenta bezerros muito saudáveis...” “ Derrubei trinta alqueires de mato e já formei tudo em pastos, o capim está crescendo que é uma beleza...” “Fiz uma reforma e ampliação da casa da séde da fazenda, agora posso hospedar folgadamente às visitas, são doze quartos. Venha mamãe, venha conhecer este lugar que é muito bonito e tenho certeza de que irá gostar muito...”
E a mãe, em sua apaixonada ingenuidade pelo filho, sempre a lhe enviar remessas e mais remessas de dinheiro. Passado um bom tempo, dizem que mais de dois anos, um parente alertou que era bom mandar alguém ao Mato Grosso para ver o que andava acontecendo por lá.
Foi destacado um parente fazendeiro, um sessentão de respeito, que entendia muito de fazenda , de gado e finanças.
Depois de muito indagar o enviado conseguiu localizar a fazenda. Mas ao chegar, deparou-se com cena desoladora: a tal sede da fazenda com doze quartos era nada mais do que uma taperinha velha de sapé com um monte de garrafas de pinga vazia para todo o lado; no terreiro um galo branco e cego e duas galinhas carijós magérrimas. Ali, o enviado só encontrou um cabôclo velho também magro, com as costelas aparecendo e completamente bêbado. Perguntou pelo Honorinho e o velho indicou com o dedo que o “sô Honorim” estava lá pra baixo, no meio do pasto, “ por debaxo dum arvão.”
O enviado se dirigiu para lá e no caminho foi percebendo que a propriedade estava completamente abandonada, não havia pastos, apenas um carrascal danado, as cercas todas caídas , arame farpado enferrujado. Gado? Viu apenas umas duas ou três cabeças de bezerros magros e diarrêicos.
Por fim deparou-se com Honorinho, como indicado pelo caboclo, realmente debaixo de uma grande arvore. Sem camisa, suando em bicas, quase irreconhecível, com as barbas já quase chegando ao umbigo, estava acompanhado do capataz de confiança, de dois índios paraguaios e de umas cinco putas, todos completamente embriagados num ambiente fétido, rodeados de mosquitos. O calor era insuportável e numa vala com fogo insuficiente e muita fumaça que ardia os olhos, assavam churrasco. Carne de aparência horrível. A cabeça da rês, ainda sangrando, se via pendurada ao galho da arvore.
Homem educado, o enviado comprimentou a todos com certa reserva. Mas pouco adiantou a sua tentativa de manter um distanciamento formal daquele bando de bêbados. Logo uma puta, uma morenona com os peitos de fora, lhe enlaçou pelo pescoço, mordeu-lhe os mamilos e agarrou forte o seu pênis.
O enviado deu um pulo para trás, sorriu sem graça, deu uma desculpa dizendo que estava apenas de passagem, que veio só para trazer um bilhete para o Honorinho e que teria que ir embora pois muito ainda tinha que viajar.
Foi difícil se desvencilhar das putas e do Honorinho que também insistia para que ele ficasse, comesse carne, tomasse um golinho... Até sugeriu que também comprasse umas terras na região, pois que muito boas, produtivas e de preço muito convidativo.
Com o enviado já caminhando de volta, Honorinho abriu o bilhete da mãe e leu o que já esperava. Eram as recomendações de sempre: que se alimentasse bem, que estivesse sempre bem agasalhado, que ela todas as noites rezava por ele etc.
Diante do relato imparcial do enviado especial ao Mato Grosso a família se reuniu e, mesmo a contra-gosto da mãe, ficou decidido que as remessas de dinheiro ao filho seriam interrompidas de vez. Pois que especulando pelas redondezas o enviado especial havia descoberto também que Honorinho devia para todo mundo em Amambaí: nos bares, nos armazéns, na Boate Azul, na zona do meretrício e que, não tinha jeito, seria preciso vender a fazenda para saldar todas as dívidas.
Portanto, nada de mandar mais dinheiro para Honorinho pois que a fazenda estava completamente abandonada, quase sem gado nenhum e o rapaz estava torrando todo o dinheiro com putas e pinga. Com a interrupção de recursos, Honorinho seria forçado a voltar para a casa da mãe.
A cada carta de Honorinho que chegava a mãe chorava muito, queria lhe mandar dinheiro, dar tudo o que pedia, mas os parentes não deixavam.
Dito e feito, interrompidas as remessas ele não se agüentou no Centro Oeste. Não passaram dois meses e um dia Honorinho apareceu, maltrapilho, barbudo. Quando a mãe o viu entrar, a sala se iluminou, pois que para ela chegava o homem dos homens. O único sentido do universo. Correu para o abraço:
- Meu filho! Que bom que você voltou!
E logo correu para a cozinha para alimentar o filhote que estava magro, ou como ela mesma disse depois ao telefone a uma amiga:”muito caidinho...”
Mas, apesar da longa viagem , à noite, o “caidinho” já estava no bar.
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